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16.12.12

Não diria melhor

A gravidez é um período de importantes reestruturações na vida da mulher, que implica mudanças físicas, psicológicas e sociais e que representa uma etapa normativa do desenvolvimento. Muitas vezes circunscrita e reflectida enquanto acontecimento de vida, poucas vezes pensamos na sua complexidade e no seu impacto na reorganização do psiquismo dos futuros pais, no estabelecimento de vínculos afectivos saudáveis entre a tríade mãe – pai – bebé e no futuro desenvolvimento da personalidade da criança. Deste modo, o tempo de gravidez representa um processo dinâmico, em contínuo desenvolvimento e construção que permite fazer a transição, que se pretende adaptativa, ao nascimento de um novo ser.
Porém, o bebé pré-existe à sua concepção, está presente nas fantasias de um pai e de uma mãe, antes de o planearem, antes de se conhecerem. Habitualmente todos os bebés nascem de uma história, de uma história familiar, de um “romance”, de um desejo, todos são falados, pensados e sonhados antes de existirem.
Durante a gravidez a mãe vive em fusão com o seu bebé. Este confunde-se com o mundo interno da progenitora e as suas próprias fantasias. Para uma mãe, aceitar a presença de um ser diferente e independente não é fácil, significa aceitar a autonomia de um ser que ao mesmo tempo é totalmente dependente.
O bebé é a promessa de um novo ser, antes de nascer de um corpo, o bebé nasce de uma mente. Todos os bebés são imaginários e habitam espaços ambivalentes povoados de desejos e angústias de ambos os pais. Estas representações são itensificadas durante a gestação através dos movimentos do feto, da imaginação do sexo e do aspecto do bebé e através das próprias fantasias acerca das funções materna e paterna. O bebé imaginário é uma espécie de “premonição”, ele permite a realização de sonhos, activa ansiedades, ele organiza e contém tumultos interiores, ele emerge do psiquismo dos pais e obriga a uma relação interpessoal na qual desempenha um papel activo.
A vinculação a um filho, o estabelecer de laços afectivos não se inicia apenas no momento da gravidez ou do seu nascimento, tem origem nas fantasias que tecemos desde muito pequeninos, quando ainda crianças. A história familiar, as emoções, as relações que vivemos, o nosso imaginário, a transmissão geracional, farão parte da história do futuro bebé e irão influenciar o desenvolvimento posterior da sua personalidade, bem como a qualidade da relação estabelecida com os seus pais. Imaginar enriquece-nos e transforma-nos, é um espaço potencial construído na relação e na comunicação com o outro e que possui linguagem própria, que comunica com o nosso mundo interno, que nos permite pensar, pensar no nascimento de um novo ser!

Ana Rocio Mendes (Psicóloga)

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