A gravidez é um período de importantes reestruturações na vida da
mulher, que implica mudanças físicas, psicológicas e sociais e que
representa uma etapa normativa do desenvolvimento. Muitas vezes
circunscrita e reflectida enquanto acontecimento de vida, poucas vezes
pensamos na sua complexidade e no seu impacto na reorganização do
psiquismo dos futuros pais, no estabelecimento de vínculos afectivos
saudáveis entre a tríade mãe – pai – bebé e no futuro desenvolvimento da
personalidade da criança. Deste modo, o tempo de gravidez representa um
processo dinâmico, em contínuo desenvolvimento e construção que permite
fazer a transição, que se pretende adaptativa, ao nascimento de um novo
ser.
Porém, o bebé pré-existe à sua concepção, está presente nas fantasias
de um pai e de uma mãe, antes de o planearem, antes de se conhecerem.
Habitualmente todos os bebés nascem de uma história, de uma história
familiar, de um “romance”, de um desejo, todos são falados, pensados e
sonhados antes de existirem.
Durante a gravidez a mãe vive em fusão com o seu bebé. Este confunde-se
com o mundo interno da progenitora e as suas próprias fantasias. Para
uma mãe, aceitar a presença de um ser diferente e independente não é
fácil, significa aceitar a autonomia de um ser que ao mesmo tempo é
totalmente dependente.
O bebé é a promessa de um novo ser, antes de nascer de um corpo, o bebé
nasce de uma mente. Todos os bebés são imaginários e habitam espaços
ambivalentes povoados de desejos e angústias de ambos os pais. Estas
representações são itensificadas durante a gestação através dos
movimentos do feto, da imaginação do sexo e do aspecto do bebé e através
das próprias fantasias acerca das funções materna e paterna. O bebé
imaginário é uma espécie de “premonição”, ele permite a realização de
sonhos, activa ansiedades, ele organiza e contém tumultos interiores,
ele emerge do psiquismo dos pais e obriga a uma relação interpessoal na
qual desempenha um papel activo.
A vinculação a um filho, o estabelecer de laços afectivos não se inicia
apenas no momento da gravidez ou do seu nascimento, tem origem nas
fantasias que tecemos desde muito pequeninos, quando ainda crianças. A
história familiar, as emoções, as relações que vivemos, o nosso
imaginário, a transmissão geracional, farão parte da história do futuro
bebé e irão influenciar o desenvolvimento posterior da sua
personalidade, bem como a qualidade da relação estabelecida com os seus
pais. Imaginar enriquece-nos e transforma-nos, é um espaço potencial
construído na relação e na comunicação com o outro e que possui
linguagem própria, que comunica com o nosso mundo interno, que nos
permite pensar, pensar no nascimento de um novo ser!
Ana Rocio Mendes (Psicóloga)