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8.4.11

Cigana

Hoje, no hospital onde trabalho, senti gritos na rua e olhei pelas sucessivas janelas que ficam ao nivel do rés do chão. Vi quatro ciganas, jovens, em debandada pela rua fora sem parecer terem um destino definido. Gritavam desalmadamente. Choravam desalmadamente. Captei o olhar de compaixão de uma delas para com a da frente. Soube depois que tinha morrido o filho recém nascido de uma delas.
Tocou-me fundo.
Quem me dera ser cigana para me juntar a elas. Partilharia a sua dor e, com a força dos gritos e das lágrimas, talvez expurgasse os meus males.